O Empreendedorismo na conservação
Desde muito novo sou apaixonado por animais. Meu sonho de menino era ser veterinário e poder cuidar dos bichos.
Ainda com 12 anos de idade meu pai me levou para uma viagem à África. Passamos quinze dias na caçamba de um caminhão, acampando onde bem entendíamos. Tomávamos banho só quando achávamos uma cachoeira… Vimos leopardos, leões, elefantes, hipopótamos e toda a rica fauna daquelas planícies. Esse primeiro contato com o Serengeti (Parque Nacional na Tanzânia) foi inesquecível e foi lá que tive certeza de que um dia iria trabalhar com conservação, e quem sabe, ajudar os animais do meu país.
A vida me levou por outros caminhos e ainda novo comecei a “alimentar” uma outra paixão, o automobilismo.
Corri por 20 anos, de várias fórmulas, em diversos tipos de carros e pelos quatro cantos do Mundo. Adorava o que fazia, mas chegou um momento em que achei que estava na hora de realizar outro sonho.
Havia chegado a hora de lutar por algo maior e deixar um legado para as futuras gerações.
Passei dois anos viajando pelo Mundo tentando ver o que estava sendo feito para salvar animais, florestas e gerar desenvolvimento econômico para as comunidades inseridas nesses habitats.
Visitei vários países para ver os animais mais conhecidos e cobiçados pelos humanos. Desde a China onde vi ursos pandas na natureza, a Índia onde fui atrás de tigres e ursos, o gelado Canadá onde vi vários ursos polares, a Uganda onde vi chimpanzés e gorilas e vários outros lugares da África. Mas foi da África do Sul de onde tirei a ideia de fundar no Pantanal o Onçafari.
Nestas viagens aprendi que para um projeto ser bem sucedido ele tem que ser bom para todos… Animais, meio ambiente e pessoas.
Então em 2011, com o objetivo de preservar as onças-pintadas, o Pantanal como um todo e gerar renda para aqueles que lá vivem, iniciamos esse projeto que une o ecoturismo, a preservação e a ciência a produtores rurais.
Além da parte de pesquisa científica com a identificação e acompanhamento dos animais através de câmeras traps e de rádio-colar, usamos pela primeira vez no país, uma técnica conhecida como habituação. Esta técnica é oriunda do trabalho realizado com leões e leopardos no continente africano e trás, para a ciência, uma nova visão dos comportamentos naturais destes animais, além de um grande diferencial ao ecoturismo do Pantanal.
Essa técnica consiste em fazer com que os animais, no caso as onças, parem de enxergar nossos veículos como ameaça e passem a agir naturalmente na frente dos mesmos.
Uma das principais metas do Onçafari é fazer com que as onças-pintadas tenham mais valor do ponto de vista econômico vivas do que mortas, assim como leopardos e leões na África, mostrando que a espécie tem papel fundamental na geração de renda da região, através da Indústria de observação de animais, o Ecoturismo.
Esse processo inovador que funde iniciativa privada, projeto de conservação e agencia federal para a preservação de onça-pintada (CENAP), precisou de um local de estudo apropriado com dois requisitos básicos: 1-presença de onças-pintadas em suas dependências e 2-proibição de qualquer atividade ilegal em seu interior, como a caça por exemplo.
O Refúgio Ecológico Caiman foi o local escolhido. É uma fazenda de 53 mil hectares próxima a cidade de Miranda, no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Este cenário foi o ideal para se iniciar o Onçafari pois, além dos requisitos básicos, desenvolve também duas importantes atividades: O Ecoturismo, com pousadas que oferecem aos visitantes uma integração com a natureza e a cultura pantaneira; e a pecuária produtiva com cerca de 35 mil cabeças de gado, em campos de pastagem natural.
Desde o século XVIII quando os primeiros fazendeiros chegaram ao Pantanal para criar animais domésticos, a onça-pintada já era vista como uma ameaça. Esses predadores eram caçados impiedosamente, simplesmente por apresentarem uma ameaça ao rebanho, já que são oportunistas e eventualmente caçam e se alimentam de gado. Atualmente, apesar de ilegal, muitos fazendeiros da região ainda perseguem e abatem onças que habitam as áreas de seus rebanhos.
A equipe do Onçafari utiliza vários métodos afim de encontrar indivíduos de onça-pintada, como técnicas de rastreamento de pegadas, busca por fezes e carcaças de presas abatidas por onças, comunicação verbal sobre indícios de presença de onças-pintadas com funcionários e moradores do Refúgio Ecológico Caiman e etc. Até mesmo as vocalizações de alarmes emitidas por algumas espécies de aves e mamíferos, como gralhas, capivaras e lobinhos auxiliam na busca ativa pelos animais no campo.
O Onçafari cresceu e já com 7 anos de idade começa a replicar esse método de conservação, focado no ecoturismo, em outras áreas do Pantanal e do Brasil.
O ecoturismo é usado como uma ferramenta de conservação importante em muitos lugares no mundo, proporcionando a valorização e o aumento da renda de proprietários rurais e ofertas de trabalho para as comunidades locais, que passam a perceber a importância de se manter preservado o ecossistema onde vivem.
Com a divulgação da espécie, mais gente começa a conhecer esse magnífico felino. Com isso turistas do Mundo todo tendem a visitar o Pantanal gerando um círculo virtuoso que gera renda para o Onçafari continuar suas atividades, para as pessoas que lá trabalham e para a região como um todo.
Pessoas que antes eram contratadas para caçar onças-pintadas hoje trabalham em pousadas como guias e dependem das onças para sobreviver. Suas famílias tem empregos nesses empreendimentos e tudo favorece a conservação do bioma.
Na África d o Sul por exemplo, a maior fonte de renda do país é o Turismo…
Propostas como esta fazem com que as onças-pintadas passem a ter mais valor vivas do que mortas e que todos os envolvidos (proprietários de terras, animais, comunidades e natureza) lucrem com isso.
O Brasil ainda tem muito a melhorar nesse sentido, mas sendo o país com a maior biodiversidade do mundo, o potencial é enorme.
Sabemos que não podemos mudar os olhos das pessoas, mas devagar e com muito trabalho estamos conseguindo impactar positivamente o olhar de muitos em relação ao maior felino das Américas.