Estratégias de reprodução animal
Desde cedo a gente aprende que o ciclo da vida se resume em nascer, crescer, reproduzir e morrer. Dá para perceber que a ênfase está na palavra reproduzir? Veja bem, nascer, crescer e morrer é involuntário e todos os seres da terra passarão por estas etapas de alguma maneira. Reproduzir talvez seja o ápice, a escolha, o grande ato nesse teatro da vida. Exagerado? Em parte. Mas para a perpetuação de qualquer espécie, a reprodução é condição essencial. Através dela indivíduos podem gerar nova prole e assim repassar seus genes. Portanto, reproduzir é uma tarefa importante e requer um grande gasto de energia. Nós, humanos, sabemos bem disso, mesmo que de forma inconsciente. Quem nunca passou o dia todo planejando uma forma de se destacar na multidão para chamar atenção de um affaire na balada? Daí dá-lhe arrumar cabelo, preparar a maquiagem, escolher o melhor perfume, a roupa que valorize sua atitude, e principalmente manter uma atitude que valorize sua essência.
O ato de reproduzir exige bastante dedicação e um gasto elevado de energia e é necessário que, considerando tal esforço, seja bastante eficaz. Não é à toa que no reino animal, dentre as milhares de espécies, exista uma gama diversa de estratégias reprodutivas. Ao se falar de estratégias reprodutivas é importante saber que não se trata apenas de questões comportamentais, mas também de características refletidas na aparência, ou alguma condição que evidencie maior adaptabilidade ou capacidade de sobrevivência no ambiente.
Seleção Sexual
A escolha de um parceiro com características favoráveis e que demostrem sua resistência e habilidade, é difundida entre as espécies e é chamada de seleção sexual. Esta seleção nada mais é do que a seleção por um parceiro do sexo oposto em razão de algum atributo que este possui e que o diferencia de uma forma positiva do restante, ou seja, que aquele atributo demonstre alguma vantagem indicando que este indivíduo é mais apto e apresenta melhores chances de sobrevivência do que outros indivíduos da mesma população sem tais características ou com menos expressividade. Em alguns casos, demostra de fato que aquele individuo é um especialista na arte de sobreviver, como por exemplo em alguns machos de espécies de aves, que mesmo possuindo algo chamativo, como por exemplo uma pena vermelha, conseguem driblar e evitar serem predados.
É interessante apontar que a seleção sexual não ocorre apenas de forma intersexual, ou seja, entre sexos distintos. Ela pode acontecer também de maneira intrasexual, onde membros do mesmo sexo competem para tentar superar oponentes que também desejam copular com uma fêmea. Algumas características relacionadas a esta relação intrasexual são chifres, garras e porte físico, que são basicamente elementos que proporcionam vantagens em uma luta contra competidores. A estratégia consiste na eliminação de outros indivíduos do mesmo sexo para assim aumentar suas chances de adquirir parceiras e consequentemente uma prole. Dentre as espécies nativas poucas apresentam competição intrasexual. Um exemplo são macacos-prego e algumas espécies de mico, onde machos disputam a dominância sexual de um grupo. Outra espécie que apresenta tal interação são as ariranhas, no entanto neste caso, as fêmeas é que competem pela dominância do grupo.
A seleção intersexual é a mais conhecida e presente na maioria das espécies. É a interação entre os sexos para escolha do parceiro sexual, principalmente através de demonstrações comportamentais e caracteres morfológicos. Normalmente este comportamento é associado a fêmeas que avaliando características morfológicas e comportamentais relacionadas a maximizarão sua maior aptidão à sobrevivência, escolhem um macho dentre os vários potenciais parceiros. Normalmente os machos competem entre si para ganhar a atenção da fêmea. Um interessante exemplo da fauna nativa é o Tangará, espécie de ave comum na mata atlântica, e que exibe o comportamento de Lek, onde vários machos se exibem juntos para uma fêmea, que escolhe o que julgar mais apto.
Estratégias Reprodutivas
Estas características entre os sexos e que são utilizadas, muitas vezes, como critério de seleção de parceiros, é denominada de dimorfismo sexual. Assim, o dimorfismo sexual é caracterizado por diferenças marcantes entre machos e fêmeas da mesma espécie.
Em aves, é comum a observação de comportamentos de exibição, como danças, principalmente para ressaltar penas com cores e formas chamativas. Algumas espécies também utilizam de ninhos bem elaborados e feitos com cuidado para atrair a atenção dos parceiros. Apesar das aves serem famosas por seu cortejo nupcial, espécies de outros grupos também apresentam estratégias interessantes, muitas delas, expressadas principalmente por algum caractere físico como tamanho, plumagens, cores, chifres ou mesmo através da força física e vocalização.
As saíras são bons exemplos de aves que apresentam dimorfismo sexual. Enquanto os machos possuem cores exuberantes as fêmeas tendem a apresentar uma coloração mais discreta. Não só as saíras, mas, no grupo das aves poderíamos citar uma lista extensa que incluiria canários, galos, mutuns, sanhaços, sabiás, etc. Os mamíferos também podem apresentar pelagem diferenciada como no caso de alguns primatas que possuem não somente coloração mais chamativa, como também porte mais robusto e características marcantes, como papadas e tufos de pelos localizados em locais estratégicos, como no topo da cabeça por exemplo. Nos cervídeos (veados) já é possível observar a presença de chifres ou cornos que surgem durante o período reprodutivo. Elefantes-marinhos também apresentam machos com um nariz prolongado, ou “tromba” além de serem bem maiores que as fêmeas.
Já entre os répteis é comum encontramos serpentes fêmeas bem maiores que os machos, característica associada a capacidade de armazenar ovos e filhotes. Esta mesma diferença pode ser observada nos insetos, peixes e anfíbios. Outro fato interessante é que algumas espécies de lagartos, como por exemplo as do gênero Tropidurus, podem apresentar comportamentos intrasexuais, com combate direto entre machos para disputa de território. Em peixes, além do maior porte das fêmeas, machos de peixes podem apresentar nadadeiras diferenciadas como observado nos betas.
No grupo dos anfíbios também é possível observar grande parte das características já citadas até o momento. Os machos de anuros (sapos, rãs e pererecas) vocalizam, de forma específica para cada espécie, para atrair as fêmeas para cópula e delimitar território. Outra característica conhecida dos anuros também são as disputas por território e por fêmeas das pererecas gladiadoras. Estas pererecas são um grupo de anuros, cujos machos possuem espinhos nas patas usados para combater oponentes. Outros anfíbios, além desse grupo de pererecas, também costumam apresentar características específicas dos machos na época reprodutiva, como é o caso das rãs manteiga e pimenta, que apresentam espinhos temporários, desaparecendo após a reprodução. Algumas rãs também apresentam comportamento de exibicionismo com movimentos sincronizados para exibição para fêmeas.
Considerando o exposto, é implícito que as estratégias reprodutivas vão ser expressas de formas diferentes de acordo com cada grupo de animais e até mesmo dentre as espécies, incluindo o ser humano, que é possivelmente o animal que mais desprende energia em seus rituais de acasalamento e possivelmente o com menor sucesso reprodutivo, propositalmente ou não.