Dia do Pantanal: conservação e ações que fortalecem o bioma
O Pantanal é um dos maiores ecossistemas de áreas úmidas do mundo. Reconhecido pela UNESCO como Reserva da Biosfera e Patrimônio Natural da Humanidade, esse bioma abriga uma biodiversidade impressionante e exerce um papel essencial na manutenção do equilíbrio ambiental.
Localizado entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e estendendo-se ainda pela Bolívia e Paraguai, o Pantanal ocupa cerca de 150 mil km² dentro da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai. A região funciona como uma imensa “bacia natural”: as águas que descem dos planaltos se espalham pelas planícies, formando rios, lagoas e áreas alagadas. É essa dinâmica das cheias e vazantes que sustenta a vida exuberante e única do Pantanal.
Todos os anos, o Pantanal vive um ciclo de cheia e seca que transforma sua paisagem. Na estação chuvosa, os rios transbordam e criam extensas áreas alagadas, berçários de peixes, aves e diversas outras espécies. Com a vazante, a vida se reorganiza: as áreas secas emergem, oferecendo alimento e abrigo para mamíferos, aves e répteis.
Essa “pulsação natural” das águas é o que mantém o Pantanal vivo e fértil. São mais de 4.700 espécies conhecidas entre plantas, peixes, aves, mamíferos, répteis e anfíbios. Entre os símbolos da região estão a onça-pintada (Panthera onca), a arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) e o tuiuiú (Jabiru mycteria), ave que se tornou um verdadeiro ícone pantaneiro. Na vegetação, destacam-se espécies como o angico (Anadenanthera colubrina), o jenipapo (Genipa americana), o jatobá (Hymenaea courbaril), o ingá (Inga vera) e a aroeira-do-sertão (Myracrodruon urundeuva).
Além de sua imensa riqueza natural, o Pantanal também é um importante centro cultural, abrigando diversas comunidades tradicionais, como povos indígenas e quilombolas, que preservam conhecimentos ancestrais e dependem dos pulsos de inundação para garantir sua segurança alimentar. No território pantaneiro e na Bacia do Alto Paraguai (BAP) há várias Terras Indígenas, como Baía dos Guató, Perigara, Tereza Cristina, Kadiweu, Cachoeirinha e Taunay-Ipegue, entre outras, habitadas por povos como os Terena, Boe (Bororo), Guató, Chamacoco, Kadiwéu e Kinikinau. Esses grupos mantêm uma relação profunda com o território, pautada na conservação dos ecossistemas e na transmissão intergeracional de saberes que unem práticas socioculturais ao manejo sustentável do ambiente.
Infelizmente, o Pantanal e a Bacia do Alto Paraguai enfrentam grandes desafios. A expansão agropecuária, a mineração e a construção de hidrelétricas têm alterado o regime das águas e ameaçado a integridade ecológica da região.
Entre 1985 e 2023, por exemplo, o desmatamento no Pantanal passou de 5% para 17%, e nas áreas mais altas da bacia (como o Cerrado de cabeceira) já chega a 62%. Isso afeta diretamente o fluxo das águas e aumenta o risco de secas e incêndios.
Outro ponto de preocupação é o projeto da Hidrovia Paraguai-Paraná, que prevê dragagens e alterações no leito do rio. Essas obras podem comprometer a dinâmica natural das cheias, reduzir a conectividade entre rios e lagoas e colocar em risco a reprodução de peixes e aves. Além disso, a modificação da profundidade e da velocidade do rio intensifica processos erosivos e sedimentares, colocando em risco a estabilidade das margens e a qualidade da água. Tais mudanças repercutem também sobre as populações humanas, especialmente comunidades ribeirinhas e indígenas, que dependem dos cursos d’água para sua subsistência e cultura.
Instituto SOS Pantanal
Diante dos desafios e das ameaças causadas pelas atividades humanas, o Instituto SOS Pantanal tem sido uma força ativa na defesa e conservação desse bioma tão especial. Com uma atuação contínua e estratégica, o Instituto desenvolve projetos que promovem restauração ecológica, manejo sustentável do fogo, fortalecimento das comunidades locais e proteção dos recursos hídricos que mantêm viva essa imensa planície alagável.
Um dos projetos mais recentes é o Mãe Terra, que desde 2022 vem implantando sistemas agroflorestais em terras indígenas, promovendo o plantio de espécies nativas e a restauração de nascentes. Até agora, o projeto já protegeu três nascentes, plantou 9.500 mudas de 25 espécies nativas e capacitou 47 pessoas, envolvendo diretamente 174 e indiretamente cerca de 2.000 membros das comunidades locais. A Log Nature tem o orgulho de ser um dos apoiados desse importante projeto.
A iniciativa busca monitorar o retorno da fauna na Terra Indígena Cachoeirinha, em Miranda (MS), como um indicador dos impactos positivos da restauração ambiental. Para isso, estão sendo utilizadas câmeras trap, que registram a presença dos animais que voltam a ocupar essas áreas. Em breve, teremos resultados que mostrarão como a natureza está respondendo a esse trabalho.
Outro destaque é o Programa Brigadas Pantaneiras, criado em 2021, que hoje conta com 27 brigadas comunitárias, privadas e indígenas em oito municípios da Bacia do Alto Paraguai (BAP). Já foram capacitados mais de 700 brigadistas, e 1,2 milhão de hectares estão sendo monitorados com o Sistema Aracuã, uma importante ferramenta de acompanhamento e prevenção de incêndios.
O Instituto também conduz o projeto Águas que falam, que atua pela segurança hídrica e justiça ambiental em comunidades vulneráveis, e o Caminhos das Nascentes, em parceria com o Instituto Taquari Vivo, que busca restaurar áreas degradadas em Unidades de Conservação da Bacia do Rio Taquari.
Entre os projetos mais recentes estão o Centro de Educação e Cooperação Socioambiental de Corumbá (CEACor) e iniciativas voltadas ao manejo integrado do fogo e fortalecimento das brigadas comunitárias, como o Aliança 5P e Região, Comunidades Adaptadas e Resilientes ao Fogo e o Manejo Integrado do Fogo na Terra Indígena Taunay Ipegue. Essas ações fortalecem a educação ambiental, a gestão comunitária e o cuidado coletivo com o território.
Além dos projetos em campo, o SOS Pantanal também tem atuado para auxiliar na criação de políticas públicas, contribuindo para a criação da Lei nº 6.160 do Pantanal (MS) e para os debates sobre a Lei Federal do Pantanal. E essa atuação tem ganhado visibilidade: o Instituto já foi destaque em grandes veículos como The New York Times, The Guardian, BBC e G1, alcançando milhões de pessoas e mostrando ao mundo a importância de proteger o Pantanal.
Com cada ação, o SOS Pantanal reforça uma mensagem poderosa: cuidar do Pantanal é cuidar da vida.
Colaboração especial
Este texto foi elaborado em parceria com o SOS Pantanal, apoiado pelo nosso programa de incentivo a projetos de conservação. Agradecemos à Stefania C. de Oliveira, coordenadora do Instituto Socioambiental da Bacia do Alto Paraguai, por sua dedicação à preservação da fauna e pelo compartilhamento de conhecimentos que inspiram nosso compromisso com a conservação.