Câmeras Trap - Uma revolução no monitoramento da vida selvagem e ambiental

Câmeras Trap - Uma revolução no monitoramento da vida selvagem e ambiental

As câmeras trap são dispositivos fotográficos equipados com sensores de movimento, projetados para capturar automaticamente imagens ou vídeos quando detectam a presença de animais ou conforme uma programação estabelecida. 

Utilizando tecnologia infravermelha, esses sensores detectam movimento e variações de temperatura, permitindo a captura automática de imagens em qualquer condição de luminosidade. Durante a noite, esses equipamentos operam com sistemas infravermelhos, sendo totalmente imperceptíveis em alguns modelos. Robustas e projetadas para resistir a condições climáticas adversas e ao desgaste, as câmeras trap são essenciais para pesquisadores no monitoramento da fauna e flora. 

Amplamente utilizadas em pesquisas de vida selvagem, monitoramento ambiental e estudos de conservação, essas câmeras possibilitam a análise detalhada da biodiversidade local, incluindo a identificação de espécies ameaçadas ou invasoras. Além disso, são fundamentais para avaliar os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente, como a caça furtiva em algumas regiões, contribuindo diretamente para a proteção das espécies.

Monitoramento de Fauna em Mata Preservada: Discussões Acerca da Valorização Desse Ecossistema.

Um artigo publicado na Brazilian Journal of Development em 2023 apresentou um levantamento da fauna local, analisando as ações humanas que podem afetar o equilíbrio ambiental. A pesquisa foi desenvolvida pela URI/Santiago, em parceria com a 11ª Companhia de Comunicações Mecanizada. Os acadêmicos identificaram pontos estratégicos para instalar duas câmeras trap em uma área de Mata Estacional Semidecidual no bioma Pampa, localizada na área urbana de Santiago/RS, próxima à URI. 

O estudo resultou na identificação de oito espécies silvestres, além de uma doméstica e uma exótica, como o javali (Sus scrofa), uma espécie invasora que tem se adaptado e proliferado em diversos biomas brasileiros. Reconhecidas como um dos principais fatores de perda de biodiversidade, as invasões biológicas, como a do javali, contribuem significativamente para a degradação de habitats e causam consideráveis prejuízos econômicos e ambientais.

O trabalho ressalta a relevância das práticas de monitoramento com armadilhas fotográficas para a identificação de espécies, potencializando os esforços de conservação em nível local. Além de alertar a comunidade científica sobre a diversidade biológica presente em cada região, essas práticas são cruciais para o diagnóstico de espécies em risco de extinção ou vulnerabilidade. A pesquisa evidencia como essas ferramentas são fundamentais para a implementação de estratégias eficazes de gestão ambiental e conservação.

Técnicas para o uso de armadilha fotográfica nos estudos com Anodorhynchus hyacinthinus no Pantanal de Miranda - MS 

Além da observação da vida selvagem, as aplicações de câmeras trap abrangem estudos de ecologia de ninhos, estimativas do tamanho de populações e riqueza de espécies, assim como pesquisas sobre o uso do habitat. Esses dispositivos fornecem uma visão detalhada e contínua das interações e comportamentos animais, que são cruciais para a compreensão e conservação da biodiversidade.

O Projeto Arara Azul tem desenvolvido pesquisas sobre a biodiversidade no Pantanal, utilizando armadilhas fotográficas desde 2013. Essas câmeras complementam os monitoramentos de campo, fornecendo dados valiosos sobre interações intra e interespecíficas. Em 2021, o projeto realizou um estudo focado na arara-azul, utilizando câmeras trap para monitorar ninhos.

Para este estudo, foram instaladas armadilhas fotográficas em 12 ninhos, monitorados pelo Projeto no Pantanal de Miranda, Mato Grosso do Sul. Os registros abrangeram desde a fase de exploração e defesa dos ninhos, de abril a junho, até a temporada reprodutiva, de julho a março.

O monitoramento de ninhos de Anodorhynchus hyacinthinus com câmeras trap resultou na captura de um extenso volume de horas de observação, com mais de 76835 eventos gravados, resultando em 548 horas de vídeos. Segundo o estudo, a coleta metódica e a análise das imagens enriqueceram os monitoramentos realizados no local, direcionando novas técnicas de manejo para a conservação da arara-azul no Pantanal. Esta metodologia pode ser replicada em estudos acerca de outras espécies ameaçadas, ampliando seu impacto positivo na preservação da biodiversidade.

O estudo trouxe dados importantes sobre a autonomia da bateria das câmeras durante o estudo de ninhos. A duração da bateria das câmeras variou significativamente dependendo do local de instalação (interno ou externo ao ninho) e da época do ano. Em ambientes externos e fora do período reprodutivo das araras-azuis, as baterias duraram até quatro vezes mais. Isso se deve à menor atividade animal, já que, após o voo dos filhotes, as araras tendem a explorar menos as cavidades, resultando em menos acionamentos dos sensores de movimento e, consequentemente, menor consumo de energia. As câmeras dentro do ninho tiveram duração de bateria muito variada: no período reprodutivo, duraram no máximo um dia e meio, enquanto fora dessa época, puderam durar até dois meses. 

De acordo com a pesquisa é essencial ter atenção no manuseio do equipamento, pois a utilização eficaz de câmeras trap requer experiência e habilidade. Um manejo inadequado pode comprometer a qualidade dos dados e, em alguns casos, até mesmo o funcionamento das câmeras. Por isso, a formação adequada dos pesquisadores e técnicos é fundamental para maximizar os benefícios dessa tecnologia.

O uso de câmeras trap demonstra ser uma ferramenta crucial não apenas para o monitoramento e conservação da biodiversidade, mas também para a educação e sensibilização ambiental. Ao documentar a vida selvagem de maneira não invasiva, essas câmeras contribuem para um melhor entendimento dos ecossistemas e para a formulação de políticas públicas mais eficientes voltadas à preservação ambiental. As informações obtidas são essenciais para a criação de estratégias de conservação mais robustas e adaptativas, garantindo a proteção das espécies e a manutenção dos habitats naturais em longo prazo.