Câmeras Trap: Uma Ferramenta Crucial para o Estudo de Primatas

Câmeras Trap: Uma Ferramenta Crucial para o Estudo de Primatas
Foto: Vitor Marigo

As câmeras trap são ferramentas valiosas no estudo de primatas. Esses dispositivos automáticos capturam fotografias ou vídeos ao detectar movimento, permitindo a coleta de dados sobre a presença, comportamento e ecologia dos animais em seu habitat natural sem a necessidade de presença humana constante.

O equipamento possibilita a observação dos primatas sem perturbá-los, o que é crucial para obter dados comportamentais naturais. Além disso, podem ser instaladas em várias localizações para cobrir grandes áreas, permitindo a coleta de dados em habitats inacessíveis ou de difícil acesso.

A destruição e fragmentação das florestas por atividades humanas ameaçam os primatas, reduzindo seus habitats a pequenos fragmentos incapazes de fornecer alimento suficiente ou refúgios seguros. Nesse sentido, o estudo com armadilhas fotográficas pode auxiliar na estimativa da densidade populacional e da distribuição das espécies, o que é muito importante para a conservação desse grupo.

Operando dia e noite, as câmeras-trap proporcionam o registro contínuo de dados em diversas condições de luz e clima. Isso é essencial para identificar e monitorar várias espécies de primatas, incluindo aquelas raras e noturnas.

As câmeras-trap podem ser utilizadas em conjunto com outros métodos de pesquisa, como observações diretas, rastreamento por GPS e coleta de amostras genéticas, para obter uma visão mais abrangente dos primatas estudados. Essa abordagem integrada proporciona uma visão mais completa dos primatas estudados e contribui significativamente para a sua conservação e proteção. 

Contagem de bugio-ruivo (Alouatta clamitans) e macaco-prego (Sapajus nigritus) em áreas de Mata com Araucária em Caxias do Sul, RS. 

O artigo sobre o levantamento populacional de Alouatta clamitans Cabrera e de Sapajus nigritus em fragmentos de Mata com Araucária, em Caxias do Sul, foi elaborado por Gabriela Hass e Rodrigo Cambará Printes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul.

O objetivo da pesquisa foi avaliar a presença ou ausência de populações de bugios-ruivos (Alouatta clamitans) e macacos-pregos (Sapajus nigritus) no Distrito de Fazenda Souza, Caxias do Sul, em fragmentos florestais de Mata com Araucária. A Mata Atlântica é o bioma com a maior riqueza de primatas endêmicos e abriga mais da metade das espécies ameaçadas de mamíferos do Brasil. Por terem hábitos exclusivamente florestais, os primatas são os mamíferos mais afetados pelo desmatamento.

Enquanto a distribuição do bugio-ruivo é relativamente bem conhecida, o macaco-prego é mais difícil de ser registrado. A ausência de um mapa de distribuição das populações de macaco-prego no estado do Rio Grande do Sul pode ser atribuída à dificuldade de visualização desses primatas na natureza; à ausência de um método prático e barato para realizar levantamentos em ampla escala geográfica; e à falta de incentivo financeiro para pesquisa, já que a espécie não é considerada ameaçada de extinção. Segundo o estudo, foram utilizados métodos de levantamento diretos e indiretos, playback e câmeras trap.

A seleção das áreas de possível ocorrência de bugio-ruivo e macaco-prego foi realizada por meio de um método que utiliza pessoas familiarizadas com a região. Esse método tem como objetivo coletar e registrar informações sobre a área com base no conhecimento dos moradores locais.

Para o inventário do bugio-ruivo, foram utilizados métodos diretos (observação visual) e indiretos (vestígios como fezes e frutos abertos). Para o levantamento do macaco-prego, foi utilizada uma combinação de três métodos: registro direto (visualização), playback e câmeras trap. 

Segundo o artigo, as alturas para a fixação dos equipamentos foram determinadas com base na capacidade de instalação da equipe. Em frente a cada armadilha fotográfica, foi instalada uma plataforma de madeira onde eram colocadas iscas, como abacates, bananas, laranjas, maçãs, rapaduras e pé-de-moleque, para atrair o macaco-prego. Duas câmeras trap, compostas por câmeras automáticas da marca Bushnell com visão noturna por sensor infravermelho, foram instaladas em zonas indicadas pelos informantes.

Foram obtidos 13 registros válidos de presença de bugio-ruivo em seis das sete áreas indicadas pelos informantes e verificadas pelos pesquisadores. A presença do macaco-prego foi confirmada apenas nas matas do Carapiaí, através de um registro por câmera trap.

O estudo conclui que as câmeras trap se mostraram eficientes não apenas para registrar o macaco-prego, mas também um mamífero raro nas florestas do Rio Grande do Sul, a irara (Eira barbara). Carnívoro, sua dieta inclui grandes quantidades de vertebrados arborícolas, como répteis, marsupiais e até mesmo primatas. 

As armadilhas fotográficas podem operar de três a oito meses sem manutenção, permitindo sua utilização para confirmação de relatos de informantes em larga escala. A pesquisa mostrou que esses dados podem ser muito úteis para proteger e conservar uma espécie. 

Este estudo destacou a importância das técnicas avançadas de pesquisa, como câmeras trap, na avaliação da presença de primatas em áreas fragmentadas de Mata com Araucária em Caxias do Sul. Além de confirmar a presença de macaco-prego, as câmeras também revelaram a presença de uma espécie rara na região, a irara. Esses métodos não apenas forneceram informações sobre a distribuição desses animais, mas também enfatizaram sua importância para estratégias de conservação e manejo eficazes, contribuindo para a proteção dos habitats florestais e sua biodiversidade.